Crítica | WandaVision: 1×07 “Derrubando a Quarta Parede”

A quebra da quarta parede é um recurso que ganhou força conforme o passar dos anos, tendo seu catalisador no gênero de super-herói com Deadpool. Desde então, o que se seguiu foram duas rotas: usos precisos dessa ferramenta de acordo com o contexto da obra em questão ou uma tentativa de mascarar um roteiro pobre, que automaticamente se tornava mais inteligente apenas porque a narrativa é “autoconsciente de sua existência”.
E é claro que, desta vez, é o primeiro caso.
Avançando cada vez mais no tempo conforme o passar dos capítulos, desta vez temos pequenas entrevistas dos personagens principais para os cameramans, uma delas antecedendo a brilhante abertura que mostra com delicadeza como a realidade de Wanda está para entrar em colapso conforme a moça vai ficando mais perdida dentro de si mesma.
Temos então um episódio que se centraliza na Monica tentando entrar no Hex com a ajuda de Woo e na crise existencial do Visão. A forma como Monica ganha seus já esperados poderes foi um tanto “sem sal”, mas não deixou de ser coesa e de encaixar agridocemente na narrativa. E como o Paul Bettany é cativante, rapaz! Se o episódio consistisse apenas no sintozóide sentado na cadeira falando sobre as adversidades da vida para a câmera ou na sua interação com a Darcy (Kat Dennings atuando com as mãos amarradas nas costas de tão à vontade e bem encaixada que ela está na sua personagem) durante o episódio, já valeria uma nota altíssima, tamanho é o carisma e fofura que o ator pincela no Visão.
O plot que ocorre no fim do episódio (e de toda a série) não foi repentino, tampouco um Deus ex-machina. Se os preguiçosos de plantão revisitarem os episódios anteriores vão encontrar sinais suspeitos vindo da Agnes, principalmente no capítulo três. E, a bem da verdade, é prazeroso ver a Marvel sempre deixando as teorias preditas pelos fãs encavernados certas apenas pela metade. No fim, havia mais alguém manipulando aquela realidade, mas não era Mephisto, e sim Agatha Harkness, uma bruxa das HQs da Casa das Ideias onde 2% do público que assiste a série conhece, nicho em que não me encaixo (vai ver por isso eu não sabia desta teoria, caso ela exista).
“Oh, não, ele não é um fã de carteirinha e não tem todos os pôsteres de todos os anos e uma tatuagem da Marvel no peito, nem fez os rituais nerdualísticos e sombrios para ter direito de fazer uma crítica sobre nossa religião! EXILEM ELE!”
Tá, parei.
Mas, novamente sobre as teorias, elas já começaram a dar fadigas. Ao menos para mim, chegamos ao ponto onde a coisa mais saudável a se fazer nesse ato final é mergulhar no rio e deixar que seu curso nos carregue, enquanto aproveitamos o refresco da água.
O que continua não me descendo, confesso, é a transformação barata de Hayward em um antagonista com uma motivação herdada de forma sem graça do Vingador Dourado. É muito provável que os roteiristas queriam deixar um vilão de cada lado pra dar um efeito de tensão igual nos dois lados. O grande problema é que, dado o histórico do MCU e as remadas da série, o final acabe com este personagem apenas sendo preso e esquecido já que o verdadeiro antagonista agora foi revelado e MUITAS perguntas que eu tinha foram esclarecidas. Chega a ser estranho notar que é a primeira vez que não separo uma parte do texto pra enaltecer Wanda, mas há um por quê. A personagem continua incrível, mas, desta vez, ela pede um tempo para si mesma no início do episódio. Temos então uma metalinguagem, onde o episódio não a torna o centro das atenções por muito tempo, nem a Woman Of the Match do episódio. Agnes leva o prêmio desta vez.

Digo com tranquilidade que este foi um dos melhores episódios da série até agora, mesmo tendo herdado alguns pontos negativos dos episódios anteriores. Fato é: os envolvidos nesta série merecem reconhecimento, mesmo que o final decaia (o que espero não acontecer). O trabalho do showrunners, roteiristas, produção artística, sonora, elenco (com exceção do Agente Hayward, onde o ator também parece não estar confortável com o rumo de seu personagem) estão acima do apenas satisfatório. Sabemos que o investimento para a série foi alto, mais de 200 milhões para uma série (!!!), mas a quantidade de pataquadas com alto orçamento que existem por aí é grande. WandaVision merece ser a série do momento, ainda mais por sabermos que ela não vai cair no limbo depois que terminar, diferente de um filme pseudo-conceitual que está para lançar mês que vem… NÃO, NÃO, NÃO ME EXECREM! NÃÃÃÃÃÃÃÃO!
P.S.: Que diabos é este Pietro, afinal? Um fantoche inanimado cujo Agatha deu vida? Um Mercúrio de outro universo que está sendo controlado? (Essa última mais improvável, visto que a série caminha pro seu penúltimo episódio e nada sobre uma realidade alternativa foi mostrado até agora).