Orient | Primeiras Impressões

É incrível como eu tenho o dedo podre pra escolher animes da temporada…
Bom, Orient nos apresenta Hinomoto, uma nação onde há 150 anos atrás os humanos foram atacados por onis, demônios que só podiam ser enfrentados pelos samurais, grandes guerreiros do passado mas que nos dias atuais sofrem preconceito da sociedade. No meio disso tudo, conhecemos Musashi e Kojiro, dois garotos que fazem uma promessa de que, quando crescessem, se tornariam samurais e sairiam em uma jornada para matar todos os onis. Porém, enquanto eles cresciam as coisas mudaram, com os onis passando a ser adorados pela sociedade e os samurais sendo segregados por todos.
Com medo de revelar seu sonho de se tornar um samurai e acabar também sofrendo preconceito, Musashi decide se misturar com o lugar comum de sua cidade e o objetivo de ser um minerador, algo que o irritava por não entender como tudo mudou dessa forma, enquanto Kojiro desiste da promessa por achar ser apenas uma grande bobagem criada por seu pai antes de morrer. Contudo, ele acaba mudando de ideia ao salvar Musashi de quase ser morto pelos onis de sua cidade, após descobrir que essas criaturas não eram tão benevolentes quanto todos pensavam.

Descrevendo dessa maneira, embora tenha cara de um battle shounen genérico, ele parece ser algo bem feito, mas infelizmente passa longe disso. A obra possui todos os clichês que você pode imaginar para o começo de um anime desse tipo. Um protagonista disposto a sempre superar tudo, o poder da amizade, está tudo ali. Tudo é muito previsível e os personagens não conseguem ser cativantes como deveriam, as motivações deles não são profundas o bastante para você olhar e conseguir pensar: “ok, isso é uma pessoa de verdade, nisso eu consigo acreditar e me identificar”. É uma coisa que eu costumo falar muito por aqui mas que é verdade, não existe problema de criar a narrativa do anime toda baseada em clichês, desde que eles sejam bem amarrados e executados.
Outro problema desse anime é como ele consegue ser bem bizarro enquanto tenta se levar a sério demais. Um exemplo disso são os mineiros, com os demais personagens de plano de fundo todos genéricos, com um detalhe aqui e outro ali para dar uma impressão de que são diferentes e não somente vários bonecos desenhados iguais, menos o protagonista com uma aparência gritante, um cabelo maluco e uma foice gigante vinda direta do Dio de Grand Chase, mas que todos consideram aquilo como uma picareta e… tá tudo bem, mais um dia normal. Seria que nem você trabalhar com alguém vestido de cosplay todo dia, mas aquele cosplay bem chamativo, de saltar os olhos. Não é uma coisa que se vê todo dia.
Mas tudo bem, vamos ativar aquela coisa mágica chamada “suspensão de descrença” e seguir em frente, afinal o Kojiro é um pouco mais normal nesse sentido, no padrão do que se espera ver de um samurai. Até que ele vem resgatar o Musashi dos onis numa moto que parece ter vindo direto de um universo cyberpunk qualquer, para depois o Musashi usar a picareta/foice como uma espada, e ela parece ter algum tipo de poder durante a luta… Não, chega, tudo tem limite e isso aqui ficou maluco demais pra mim.

Essa loucura toda é um problema sério desse episódio, pois parece que o anime não definiu muito bem o que quer, se é contar uma história séria, sobre a jornada dos garotos para deter os onis, com o dilema do Musashi sobre não conseguir admitir publicamente que quer ser um samurai, alguém que é odiado pela sociedade; ou então se abraça a loucura de vez e leva isso como algo mais cômico sem perder o timing da ação, num estilo One Punch Man ou JoJo.
Tem alguns elementos interessantes aqui para serem trabalhados na história, sobre o porque essa mudança repentina do status dos samurais e dos onis perante a sociedade, ou sobre como foi feito todo um trabalho de manipulação em massa através da religião para fazer com que os onis sejam adorados, com isso escondendo debaixo dos panos a ameaça que eles são, mas eu não sei se fico exatamente animado em esperar como isso vai se desenvolver, visto que o que foi apresentado nesse episódio não fez questão nenhuma de ir além do que nós já vemos em centenas de outros animes genéricos por ai.
Olha, acho que muita gente vai dropar esse daqui. Ele não apresenta muita coisa para se sustentar e cativar o público no quesito narrativo, então acabam sobrando as lutas que não são de todo ruim, mas que não chamaram tanto a atenção nesse episódio por conta da péssima qualidade da animação, que segundo o pessoal do Sakuga Brasil, foi terceirizada duas vezes nesse primeiro episódio, o que explica o fato do sangue do Musashi parecer tinta por exemplo. A trilha sonora não é lá grandes coisas, não engatou como eu esperava, então foi uma estreia bem mediana. Torcendo bastante para abandonarem de vez esse aspecto sério e caírem de vez para a comédia, talvez seja a única coisa que pode salvar esse aqui.