Titãs: 1° Temporada | Apertem os Cintos… O Roteiro Sumiu! – Crítica

A série é bem confusa, pra ser sincero. Essa primeira temporada até se esforça para nos mostrar para onde esse grupo completamente diverso quer chegar, nos apresentando um vigilante violento, uma alienígena desmemoriada, um adolescente transformo e sem rumo na vida e uma gótica assustada com o que possui dentro de si, e só isso já seria muito para uma temporada. Mas, enquanto a série se propõe a ser sobre os Titãs como um grupo, esta temporada foca muito mais na história da Ravena e do Robin, com ela sendo alguém que tem medo de lidar com seus demônios internos (literalmente). Não dá pra chamar exatamente o que ela tem de poderes, já que no fim das contas acaba sendo um Deus Ex Machina das trevas que sempre aparece pra salvar o dia, com muita escuridão. Já o Dick possui treinamento especializado em combate, condicionamento mental e até uma certa resistência às drogas, no entanto, ele não está tão longe da Ravena na quesito de controlar essa parte sombria dele. Ele mal consegue controlar sua raiva quando surge como Robin, e qualquer criminoso em sua frente é um alvo para desencadear sua violência, e é aqui que o conceito dele fica bem confuso.
|
Tirando isso, o resto da história é dividida em dois grupos, dos antigos e dos novos titãs, onde temos onze episódios para contar a história de oito personagens. Só isso já seria uma história bem inchada a ser contada, nisso dois episódios são completamente inúteis, o último e o da Patrulha do Destino, então ao todo são nove episódios pra essa bagunça toda. Era de se esperar que quase todos os personagens fossem trabalhados de maneira bem superficial, assim como os conflitos entre os personagens e contra o próprio vilão em si, que acabou não tendo peso algum.
Quando a série tenta estabelecer os personagens secundários, no caso os antigos titãs, temos pequenos flertes com conflitos mal resolvidos, antes de desviar em uma direção oposta para nos apresentar mais personagens. A cada episódio um novo personagem é apresentado e o personagem do episódio anterior não é trabalhado de uma maneira crível, e acaba sendo tudo feito muito rápido, artificial e sem tempo para esses personagens brilharem, e é bem feio. Como os roteiristas não acertam a mão sobre o que fazer com eles, vemos sempre um mesmo padrão todo episódio de se reagruparem, se esconder e correr, correr bastante.
Por mais difícil que seja, ainda temos um pouco dos personagens para observar. Ainda sobre o Dick e seu conflito com os métodos do morcego, vemos como isso é trabalhado quando ele encontra Donna Troy, a Moça Maravilha, antiga companheira dos tempos de vigilante. Assim como ele, ela é alguém que já viu muita violência passando em sua vida, porém descobriu uma forma de continuar combatendo o crime sob uma ótica diferente, fugindo desse “lado sombrio”. Isso é destacado novamente quando Dick conhece Jason Todd, o novo Robin. Ele de cara não aceita sua ajuda, por achar que sozinho já é o bastante, porém mais pra frente ele muda de ideia por perceber que Jason está seguindo exatamente seus passos e parece abraçar a violência pra valer, com toda a felicidade que lhe cabe para espancar um bandido. Diversas interações que não conseguem fazer com que Dick chegue no status que diz buscar, a fuga da violência que o mesmo não para de demonstrar. Quando a temporada termina no episódio onze, Dick ainda tem controle zero sobre sua raiva e Rachel está apenas começando a crescer, mas está mais assustada do que qualquer coisa.
|
A caracterização é uma das poucas coisas boas da série, pois vemos uma das melhores adaptações dos personagens DC em séries, superando bastante as séries da CW nesse aspecto. Ambos os Robins, Rapina e Columbo são bem bonitos e acertam em cheio numa adaptação realista dos quadrinhos, assim como as coreografias de combate que são de encher os olhos, alguns dos momentos mais divertidos dos episódios. Mutano e Ravena passam meio despercebidos nesse assunto, afinal são só adolescentes confusos sobre o que podem fazer e não heróis de fato, mas a Estelar me incomodou um pouco nesse sentido porque não souberam como adaptar ela, ficou deslocada visualmente com suas roupas extravagantes e cores exageradas.
A primeira temporada de Titãs pode ser classificada como a série do quase, que nadou e morreu na praia. Nós quase vemos uma história, quase vemos o Robin lidar com seus problemas, quase vemos mais o passado da Estelar e porque ela está na Terra, quase nos é contada a história do vilão. São várias histórias interrompidas que no fim se juntam como peças de um quebra cabeça diferente cada uma, formando um grande Frankenstein ambulante. Pouco tempo pra muita bagunça, muita coisa profunda e pesada que no fim das contas não teve peso algum e no episódio final um grupo unido por nada além de recursos de roteiro, porque você não sente uma motivação para aqueles personagens agirem em conjunto. O elenco é bom, e é isso (somado ao meu carinho pelo grupo) que me faz ter vontade de assistir a próxima temporada e torcer por uma narrativa pelo menos mais coesa e quem sabe, boa. A sequência de pós-créditos no final sugere que Superboy se juntará aos Titãs em breve, continuando a expansão do tema de grupo dos “ajudantes dos heróis”. Será que teremos Asa Noturna já nessa próxima temporada? Afinal dois Robins em tela não dá, tá na hora de crescer!
Espero que os roteiristas possam se concentrar mais em fazer esses personagens brilharem, já que muita coisa fica em aberto, seja por não ter sido explorado muito bem ou por ficar alguma ponta solta após o último episódio, como a relação da Estelar com seu planeta já que desobedeceu uma ordem direta, ou o que de fato aconteceu que fez os primeiros Titãs acabarem, a relação da Ravena e Mutano com seus poderes. Enfim, muita coisa que não pode ser desperdiçada como foi nessa temporada.